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Discussão

Discussão do texto:

O problemas do conteúdo do material e da forma na criação literária

colaborou Flávia Machado

O primeiro encontro do subgrupo coordenado pela Profa. Dra. Sheila Grillo teve como objetivo a discussão de um dos textos fundadores da teoria dialógica formulada pelo Círculo de Bakhtin: O problema do  conteúdo, do material e da forma na criação literária. A discussão foi liderada pelo colega Luiz Rosalvo e ainda contou com a participação dos colegas Simone, Arlete, Artur, Inti e Flávia, além da própria Profa. Em nossa mesa de trabalho, contamos com um exemplar da obra na língua original de publicação, o russo; uma edição traduzida do russo para o francês; e edições em língua portuguesa, por sua vez, também traduzidas diretamente do russo.

A leitura minuciosa feita por Rosalvo foi orientada por questões que interessam particularmente à tese que desenvolve atualmente: o estudo da noção de ideologia e as possíveis articulações com a análise do discurso de Divulgação Científica.  No entanto, antes de refletirmos sobre como a obra influencia nosso olhar para os discursos que analisamos, Rosalvo apresentou a contextualização sócio-histórica da obra no cenário russo da década de 1920. O texto O problema do conteúdo, do material e da forma foi elaborado para ser publicado em uma revista, cujo título traduzido era “O contemporâneo russo”.  Antes que pudesse ser publicada, a revista foi fechada e o texto, datado de 1923/24, deixou de ser veiculado na época. Um dos principais propósitos do texto é situar a especificidade do estético em relação aos outros domínios da cultura a partir do diálogo com os formalistas contemporâneos a Bakhtin.

O cerne do diálogo estava na contraposição entre o fenômeno estético e o objetivismo abstrato, do qual destacamos a linguística saussuriana e o próprio formalismo. Outros textos do Círculo de Bakhtin, publicados na década de 20, retomam o debate, tal como Marxismo e Filosofia da Linguagem e O discurso na vida e o discurso na poesia. Há alguns pontos em que as perspectivas desse conjunto de textos se encontram. Primeiramente, o contexto russo sob o primado do social que possibilitou a sociologização do pensamento. Contrapondo-se ao objetivismo abstrato, os textos do Bakhtin comportam, em maior ou menor grau, a perspectiva da sociologização. Da mesma forma, os textos também apontam para uma mesma concepção de signo, elemento que pode ser colocado a serviço de um constructo teórico, situando tais conceitos em uma dada dimensão político-social.

Uma das críticas que Bakhtin dirige aos formalistas é a falta de fronteiras entre a forma arquitetônica e a forma composicional. Bakhtin propõe uma Estética Geral que não pode limitar-se à análise do objeto em si mesmo, mas que deve ser situado sócio-historicamente. Apesar dos pontos de divergência, Sheila colocou que há pontos de convergência entre Bakhtin e os formalistas. O primeiro deles seria o olhar científico para o objeto estético. O segundo é a questão da busca da especificidade do fenômeno literário. O que distancia Bakhtin dos formalistas é o percurso metodológico para a busca de tal especificidade, colocando o específico do literário na Cultura e na relação entre as suas esferas. Tanto o formalismo russo da década de 20, quanto a teoria dialógica formulada pelo Círculo de Bakhtin eram movimentos de prestígio em formação. Sheila acrescenta que na Rússia, os formalistas foram o berço para pós-formalistas como Bakhtin, para a escola de Tartu e para o estruturalismo. Dentre outras contribuições da obra, Inti indicou a importância da noção de autor-criador como um conceito-chave do texto, conceito que será retomado na próxima discussão do grupo.

Ao finalizar o debate do primeiro encontro, os membros do grupo elegeram os conceitos da obra que se constituem fundamentos epistemológicos para suas respectivas pesquisas:

  •  Flávia manipula as noções de forma arquitetônica e composicional para compreender a hiperestrutura do jornal impresso e a noção de esfera para a definição de internet.
  •  Para Rosalvo, que busca a noção de ideologia subjacente na produção de Bakhtin, interessa verificar como a noção de axiologia entra como um componente na produção estética.
  • Sheila utiliza os direcionamentos da obra para operar seu modelo teórico que contempla a especificidade do objeto no conjunto da cultura e também para analisar os elementos não verbais dos enunciados. A pesquisadora também interessa-se pelo aparecimento das formas arquitetônica e composicional no gênero discursivo.
  • Já Simone, buscou como conceito basilar os mesmos aspectos dentro de um conceito de valores, baseando-se, também na obra Por uma filosofia do ato.
  • Durante sua pesquisa de mestrado, Arlete apoiou-se na obra para lidar com a noção de acabamento, relacionada à arquitetônica. Seu interesse era verificar como o autor organiza arquitetonicamente os elementos do conhecimento e da vida.
  • Anteriormente, Artur buscou o conceito de ‘palavra’ na obra que, na década de 1960, será mais desenvolvida por Bakhtin em Problemas da Poética de Dostoiévski.

Para o próximo encontro, em 26/04, cada membro do grupo será responsável pelo exame de um conceito específico da obra: forma arquitetônica (Simone); forma composicional (Flávia); gênero (Inti); conteúdo (Rosalvo); material (Artur); autor-criador (Arlete) e forma (Sheila). Esperamos que as reflexões promovidas pelo grupo sejam instigantes e produtivas para o contexto de nossas pesquisas, assim como para as pesquisas dos leitores e seguidores do blog.

Bibliografia para consulta:

BAKHTIN, M.M. Probliéma formy, soderjániia i materiála v sloviésnom khudójestvennom tvórtchestve. BOTCHAROV, S.G. NIKOLAEV, H. I. (Red.) Sobrárinie Sotchiniénii t. 1 Filosófskaia estétika 1920-kh godóv. Moskvá: Rússkie slovári/Iazyki slaviánskoi kultyry, 2003. p. 265-325.

BAKHTINE, M. Problème du contenu, du matériau et de la forme dans l’œuvre littéraire. In: Esthétique et théorie du roman. Trad. Daria Olivier. France: Gallimard, 2004 [1924], p. 21-82.

FARACO, Carlos Alberto. In: BRAIT, Beth. Bakhtin, dialogismo e polifonia. (Indicação do Rosalvo).

MORSON, Gary Saul & EMERSON, Caryl. Mikhail Bakhtin: criação de uma prosaística. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo: Edusp, 2008. (Indicação da Simone)