Forma Arquitetônica

A importância da noção de arquitetônica em “O problema do conteúdo, do material e da forma na criação literária”

colaborou Simone Veloso

Produzido em 1924, esse ensaio, ao entabular diálogos com três outros textos – Arte e Responsabilidade (1919), Autor e Herói na Atividade Estética (só publicado em 1975) e Para uma Filosofia do Ato (primeira edição em russo só aparece na primeira metade da década de 1980), problematiza, acima de tudo, o projeto metodológico formalista de análise do material estético, de forma a considerá-lo incapaz de observar a obra de arte em sua constitutiva inter-relação com valores culturais, éticos, sócio-históricos.

Nesse sentido, a noção de arquitetônica apresenta-se como um dos principais elementos que emergem da polêmica instaurada contra pressupostos formalistas delimitados a uma abordagem materialista, em que afloram privilegiadamente enfoques analíticos de aspectos linguísticos e formais desvinculados da base axiológica responsável pela atribuição de um sentido concreto: o autor criador.

Contudo, é importante salientar que não se trata de lugar enunciativo apenas, mas da voz de um autor criador que porta valores culturais, éticos, morais e, desse modo, somente ele pode se responsabilizar, na singularidade do ato, pelo sentido esteticamente gerado. Tais valores viabilizarão o acabamento da obra, de forma que as partes estarão ligadas em função de um projeto/intencionalidade autoral.  Esse projeto constitui-se a arquitetônica da obra. Podemos dizer, grosseiramente, que se trata do planejamento maior de uma edificação, sem o qual as partes se fragilizariam sem a combinação de um todo, ou como em uma orquestra, em que o maestro com sua “singela” batuta comanda um todo arquitetônico de sentido em que os sons produzidos portam valores de diferentes ordens.

Para compreendermos a noção de arquitetônica vale considerar igualmente a análise que Bakhtin empreende do proema Razluka (Separação) de Pushkin, escrito em 1830. Tal análise, desenvolvida em Para uma filosofia do ato responsável, observa o quadro axiológico/ético delineado pela perspectiva do homem amado que vê a Itália como terra estrangeira, espaço em que comporta o corpo da mulher amada morta, ao passo que para ela se apresentaria como o chão de seus antepassados. Belíssimo!