Nova tradução da obra Marxismo e filosofia da linguagem

Por Inti Queiroz

A nova edição brasileira de Marxismo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem acabou de ser publicada pela Editora 34. Durante muitos anos, os pesquisadores brasileiros utilizaram a tradução anterior publicada pela Editora Hucitec, traduzida da obra em francês. Todavia, esta nova edição nos presenteia com uma publicação traduzida diretamente do Russo pelas pesquisadoras Sheila Grillo e Ekaterina Volkova. A obra ainda oferece aos leitores diversas notas de roda pé explicativas (além das notas já existentes no original) e uma introdução primorosa escrita por Sheila com a reflexão sobre o Círculo estar respondendo aos pensadores da linguagem anteriores a eles.  

Esta é sem dúvida uma das obras mais importantes da linguística russa do século XX e, com os avanços dos estudos bakhtinianos no Brasil, justifica a importância de sua publicação traduzida do russo.

A obra produzida nos anos 1920 ainda tem sua autoria em disputa. Entretanto, as evidências da edição original encontrada na pesquisa realizada em bibliotecas russas, possibilitaram que as tradutoras atribuíssem a autoria a Valentin N. Volóchinov (1895-1936).

Em MFL, Volóchinov aborda as principais tendências dos estudos da linguagem, passando por  pensadores como Marx, Spitzer,  Humboldt e Saussure, e a partir desse diálogo propõe um método sociológico que seria a partir daí transversal a boa parte das obras do Círculo.

As tradutoras utilizaram as duas primeiras edições da obra (1929 e 1930) para desenvolver esta edição. Acompanha a tradução e o ensaio introdutório, um glossário detalhado,  onde é possível observar alguns conceitos até então pouco trabalhados por aqui, mas que estão em destaque e MFL, como por exemplo: ato discursivo individual e criativo, ato social, compreensão, ênfase valorativa, fato linguístico, fundo de apercepção, horizonte valorativo, identidade normativa, interferência discursiva, monumento, orientação social da vivência, percepção ativa, vivência do eu, entre outros.   

É possível dizer que essa tradução trará um novo olhar para as reflexões sobre o Círculo no Brasil, já que apresenta uma série de detalhes coerentes com as reflexões que estes pensadores faziam no auge de seus encontros no fim dos anos 1920.